sexta-feira, 4 de março de 2016

Com baião de dois e uma banda de melancia


Com baião de dois e uma banda de melancia

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Antônio Francisco, mestre e doutor do tema cordel, tem a história do povo como linha de pesquisa. A publicação em cordéis com conceitos Qualis popularis,  desconhecido pela Capes e CNPq. Antônio nasceu, cresceu e viveu no sertão, e virou tema de dissertação na defesa de um mestrado. Mal conheceu o serrado e virou tese de doutorado. Provou sua proficiência em um idioma desconhecido pela academia, a linguagem do povo, com o verbo e os adjetivos usados nas ruas. Fez sua faculdade com leituras de gibis e revistas. Colocou pregos em solas, e soldas em placas. Trabalhou de gazeteiro e fez gazeta nas ruas. Foi convidado recentemente para duas resenhas. Não perdeu tempo e fez um baião de dois, trazendo uma melancia dividida em duas bandas.

Antônio Francisco, depois de muita estrada chegou em Natal para fazer um baião de dois. Juntou dois eventos para repartir uma melancia, deixou uma banda no Sarauterapia do CRO, e a outra banda na Quinta Literária da Livraria Nobel. Tudo em Natal, para comer e falar em dois dias.  E cada banda da melancia, dois ficaram a cargo de fatia-la, entre os presentes. Com Rubens Azevedo e Tião no Sarauterapia do CRO; e com Aluísio Azevedo e Marcos Medeiros na Nobel. Com os Azevedos, estavam a responsabilidade maior, de receber com as honras da casa, e de cortar e recortar a banda de melancia, entre os que viriam degusta-la no baião de dois, servido em dois dias, uma quarta-feira e uma quinta-feira, seguidas.

Antônio só viaja de misto, exigindo um banco na primeira classe, e na janela, com direito a farinha e rapadura no serviço de bordo. A água é farta, bastando tirar da quartinha, sempre bem fresquinha, com copo de alumínio brilhando e reluzente, areado com areia. Com e tal como uma melancia, contou sua história desde os tempos de menino chegando aos tempos de caserna, no serviço militar, aos pensamentos de seus versos. Versos já rimados ou criando novas rimas, que possam ser cantadas ou declamadas.

O cabra é verde por fora e vermelho por dentro, igual melancia, e tal como Jesus Cristo com ideias de repartir, a mesa e os livros, que formam saberes e sabores. Jesus também dividiu seus símbolos, como o pão, a água e o vinho, acompanhado de peixes. Antônio que já pescou muitas piabas, divide seus livros e a tapioca, em livros de folhas brancas, com diversos recheios. Jesus com uma fieira de peixes e Antônio com um cordel, de folhetos impressos. Jesus na sombra de uma oliveira, e Antônio debaixo uma mangueira. Enquanto Jesus tomava banho público no rio Jordão, Antônio toma banho de balde e caneca, no meio da rua.

Depois de contar suas histórias, e comerem a sua melancia, plantada e colhida em casa, ficaram as cascas e as sementes. Mas foi para isto que veio, deixar cascas e sementes, deixando uma parte para mãe natureza, que recicla suas produções, criando novas produções. E para bons entendedores presentes, com os resíduos que deixou, pode-se fazer um doce e formar uma nova plantação. Na carência do doce, as cascas servem de adubação.

Hoje Antônio vive em Mossoró, fazendo ponte com Natal. Em Mossoró com meia banda para a praia, e meia banda para o sertão. O mundo sempre se assentou em bandas, a do Norte e a do Sul, a do Leste e a do Oeste. A cidade e o sertão. Primero começou com o dia e a noite, com Adão e Eva, com as terras e as aguas. O paraíso e o inferno, com o bem e o mal. O mundo sempre foi bipolar, desde a criação.

‘Antonho’ contou histórias de vida e de lida, contou leituras e travessuras. Contou sonhos e devaneios. Descreveu sua casa, na serra de Mossoró, que vive sempre de portas abertas, com os moradores de braços abertos, recebendo os que chegam. Até o dia que chegou em casa, e encontrou uma feira sendo armada no corredor de sua casa, entre a sala e a cozinha. Já tinha barraca de frutas e legumes montadas. Tinha bodes e cabras amarradas. E tinha barraca de petiscos armada, com tamborete para sentar e comer buchada, com o povo petiscando com lascas de queijo de coalho, e de queijo de manteiga, cortando o efeito da pinga. Mas ainda era cedo, e armou a rede para dormir, deixando para fazer a feira quando sol já estivesse no alto e quente.

Quando vai ou vem para Natal, monta acampamento em Capim Macio, para dormir com o vento, que chega pela via costeira. Já está costumado a morar com a porta aberta, sem aperreio do que possa acontecer. Anda sempre armado com uma baladeira e um baita de uma peixeira, que o cabo parece de uma espada, mas a folha é menor que um canivete, para tirar a sujeira debaixo da unha.

Cordelista, xilógrafo, escritor e poeta. Compositor e pintor, pintou quadros e as metades de algumas paredes. Sua próxima meta é levar a tocha olímpica, de Mossoró ao Seridó, com pernoite em Caicó. Já algum tempo vem treinando carregando uma melancia na cabeça, equilibrada com uma rodilha.



RN, 04/03/16



por
Roberto Cardoso (Maracajá)
Branded Content (produtor de conteúdo)
Reiki Master & Karuna Reiki Master
Jornalista Científico
FAPERN/UFRN/CNPq

Plataforma Lattes
Produção Cultural
Maracajá


Um comentário:

  1. Que HISTÓRIA maisssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss LINDA!!! Daluzinha amouuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!

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