segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Convocação à baderna

CE carreata.pngimagem original: print screen


Convocação à baderna
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No estilo mais pobre do processo civilizatório, o prefeito eleito convoca o povo para comemorar a sua vitória. Parece querer dividir com o povo, a bagunça nas ruas, mas precisa  de argumentos e escudos. Convoca seu eleitorado para uma carreata, indo contra o processo de desenvolvimento da cidadania, o respeito ao próximo. Convoca para um ato discriminatório, devem comparecer ao evento, apenas os que possuem carros. Teoricamente e tecnicamente, os caronas deverão estar dispostos a balançar bandeiras e a fazer barulho, enquanto motoristas conduzem o automóvel.


Durante o período de campanha, já havia desfilado de destaque em um carro alegórico, promovendo congestionamentos e barulho em frente às casas por onde passava. Distribuiu pelas ruas: acenos e sorrisos; mais decibéis e  mais monóxido de carbono. Não adianta apertar o nariz, vendar os olhos ou abafar os ouvidos, a caravana passava, deixando rastros de dejetos invisíveis, que serão descobertos ao longo do tempo, nos postos de saúde. A gota que faltava, para transbordar o pote ou entornar o caldo...


Todo ato traz consigo uma simbologia e um comportamento oculto. Nos desfiles militares pelas ruas, o poderio da tropa. No transporte da tocha olímpica, o poderio e o poder do fogo. No racha (pegas) de carros nas ruas, o esporte proibido e a exibição do poder econômico. Nos engarrafamentos urbanos, a dicotomia; o sacrifício de quem viaja de ônibus e o conforto de quem possui um carro, com vidro fechado, ar condicionado e rádio ligado. Nas atividades circenses, tendo palhaços e animais amestrados, o circo chegou na cidade. A passeata, o comportamento do amostrado, a reunião de todas as coisas, o pitaco de um e de outro.


E agora o prefeito eleito, como em um primeiro ato de sua nova administração, convoca o povo para uma manifestação nas ruas. As mesmas ruas proibidas aos protestos e reivindicações, dos que desfilam a pé com bandeiras em punho exigindo deveres e direitos. Exigindo posições alvissareiras, de políticos e administradores, de caráter coletivo, beneficiando a população como um todo.


Na tal cidade sem planejamento urbano, sem mobilidade urbana e sem acessibilidade, a convocação para carros nas ruas. Uma convocação pelas redes sociais, logo após a abertura das urnas. E novamente o candidato prefeito, volta às ruas desfilando em um carro alegórico, todo iluminado. Distribuindo beijos, gesticulando pelas ruas com acenos e sorrisos; e mais decibéis, e  mais monóxido de carbono. Um ato que deve ser planejado antecipadamente, em benefício da saúde e da segurança pública, assim regem as regras de qualquer prefeitura.


O direito e o dever de cidadania, não se limita a escolha de políticos à uma próxima administração, mas estende-se ao respeito do espaço do outro. Ao exercer o direito de cidadania, não se amplia a todos os direitos, de entupir as ruas de de carros. Como também não estacionar carros em locais não permitidos, e carros no trajeto foram obrigados a fazer isto, tendo que sair da frente. Promover carreatas e buzinaços pelas ruas, que deveriam ser tranquilas. O prefeito é formado em direito, um causídico em benefício próprio. Não entende a linguagem da cidade, que está escrita nas ruas, em postes e asfaltos, colunas e calçamentos. Ainda sem imagens ou símbolos estampados existe uma linguagem em ruas e calçadas, definidas pelo desenho universal. Cabe a um prefeito e suas secretarias, respeitar e fazer respeitar.


O prefeito já tem história, de não promover acessibilidade nos eventos públicos. E de permitir alvará a espaços públicos sem acessibilidade e sem segurança, em situações de emergência. Começa agora seu novo mandato levando instabilidade para as ruas. As mesmas ruas que podem possuir calçadas, onde ele não coloca os pés no chão. Mas desfila em carro aberto; ou em carro fechado, blindado com ar condicionado. Tudo depende do tipo de evento, de não enxergar a cidade e de ser enxergado pela população.


03/10/2016

http://www.publikador.com/resenhas/roberto-cardoso/convocacao-a-baderna



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